A temperatura superficial da
Terra é determinada por um balanço de energia entre a radiação solar incidente
e a radiação térmica rejeitada para o espaço. Se não houvesse uma atmosfera
envolvendo a Terra, como em Mercúrio, sua temperatura superficial seria da
ordem de -18 ° C. Porém, a camada gasosa que cobre a Terra contém, além de oxigênio
e nitrogênio, dióxido de carbono (CO2) e outros gases que permitem que a radiação
térmica de onda curta passe através da camada, mas absorvem a maior parte da
radiação térmica de onda longa emitida pela superfície terrestre. Este é um
processo similar ao que ocorre em um pote de vidro ou dentro de um carro
expostos ao sol, sendo esse processo conhecido como “efeito estufa”. Essas
propriedades de absorção seletiva dos gases da atmosfera resultam em uma
temperatura média global propícia à vida em suas várias formas.
Porém, algumas atividades humanas
têm aumentado significativamente a concentração global de certos gases na
atmosfera, sobretudo o CO2. À medida que a concentração desses gases aumenta, a
temperatura superficial média da Terra também deve aumentar para manter o balanço
de energia entre a radiação que chega e a que sai da Terra. Projeções científicas
prevêem que dobrando-se a quantidade de CO2 na atmosfera em relação aos níveis
atuais, resultaria em um aumento de 3 a 5 ° C na temperatura média da superfície
da Terra. Este aumento de temperatura pode causar o aumento do nível do mar,
provocando alterações drásticas dos climas regionais e dos padrões de precipitação
de chuvas
A produção global anual atual de
CO2 devido a atividades humanas é estimada em 23 bilhões de toneladas. Mas, além
do problema da elevação da temperatura ambiente, a queima de combustíveis fósseis
libera certos óxidos, como o NOx e o SO2, que por sua vez se transformam na
atmosfera em poluentes secundários como o ácido nítrico e o ácido sulfúrico,
ambos facilmente dissolvíveis em água. Os ácidos também podem se transformar em
sais de enxofre e de nitrogênio e estes ácidos, então, podem se precipitar
através da chuva (conhecida como chuva ácida), neblina ou neve. Os danos dessa
chuva podem ser causados em florestas, plantações, lagos, peixes, prédios, água
de abastecimento, carros, pessoas, etc, e, com o aumento da acidez da terra, os
recursos de alimentação e produção diminuem. Nas Filipinas, a poluição –
basicamente CO2 – causada por uma usina termoelétrica, provocou sérios
problemas respiratórios na população residente nas vizinhanças bem como a redução
da produção e qualidade dos produtos agrícolas, dos empregos e da renda.
Este governo “brasileiro”
pretende agora instalar 49 (!) usinas termoelétricas no Brasil inteiro, movidas
a gás natural e a serem compradas de multinacionais. E, se as concessionárias
que possuirão essas malfadadas usinas estão sendo privatizadas, por que os
gastos com as instalações estão sendo feitos com o dinheiro do povo pobre e
indo em beneficio de particulares multibilionários? Não devia ser o povo
brasileiro a ganhar com a “venda”? E ao contrário do que tem sido divulgado no
Brasil como propaganda enganosa, o gás natural não é energia limpa, ele é
apenas 20% menos poluente do que o petróleo. Para cada GWh produzido com gás
natural, são emitidas em torno de 500 toneladas de CO2 para a atmosfera. E para
que essas 500 toneladas sejam lançadas ao ar do Brasil, basta apenas duas horas
de operação de cada uma dessas usinas que querem desnecessariamente espalhar
pelo País. Os gases poluentes emitidos agora para a atmosfera demorarão 150
anos para se dissipar. Além de todo esse dano, a termoelétrica ainda tem
capacidade de causar outros enormes prejuízos ao ambiente. Uma termoelétrica
necessita de enormes volumes de água para a refrigeração de seus equipamentos e
por causa disso ela sempre é instalada perto de grandes mananciais, como rios e
lagos. A termoelétrica pega a água fria do rio e a devolve muito quente ao
caudal, cuja água então aquecida é capaz de destruir a sua fauna e flora.
Nos últimos dias está sendo
veiculada uma campanha publicitária que usa o seguinte slogan para as termoelétricas:
“Sem influência das estações climáticas”. É ‘perfeitinho’, pois o slogan certo
mesmo para as termoelétricas é: “Têm influência nas estações climáticas”!
O Brasil tem muito a ganhar em
termos de conservação de energia, por exemplo. O Coeficiente de Intensidade
Energética (CIE) que dá uma medida do quanto eficiente é o parque energético,
indica que o CIE do Brasil é de 0,64 enquanto que o da Alemanha é de 0,32 e o
do Japão é de 0,27, mostrando que existe muito espaço no Brasil para
tecnologias e medidas que aumentem a eficiência energética. Uma geladeira feita
no Brasil consome cerca de 350 kWh enquanto que essa geladeira de mesmo tamanho
feita na Dinamarca consome 100 kWh. Ou seja, nossas indústrias consomem muita
energia para produzir equipamentos que consomem muita energia e, conseqüentemente,
com preços mais elevados. Seria (se é que alguma coisa ainda faz sentido no
Brasil de hoje…) preciso que o governo criasse medidas para auxiliar a
modernidade do nosso parque industrial. Assim, além de podermos encontrar mais
energia aqui mesmo, ao mesmo tempo nos tornaríamos mais competitivos nos
mercados internacionais.
Não é com a instalação de usinas
poluentes, danosas e caras que iremos aumentar nossa eficiência energética e
nossa competitividade, ao contrário, continuaremos obsoletos e nos prejudicando
ainda mais! O custo médio do MWh da hidrelétrica fica entre US$ 17 a US$ 20,
enquanto que o MWh da usina termoelétrica está em torno de US$ 35. As nossas
linhas de transmissão também são obsoletas e estima-se que nos países do
terceiro mundo a correspondente perda de energia é da ordem de 20% da energia
gerada. Vinte por cento sobre a capacidade instalada no Brasil corresponde à
cerca de 12 GW, exatamente uma usina de Itaipu. Adicionalmente, anos atrás lançamos
pela imprensa nacional a idéia de um programa de substituição parcial das lâmpadas
atuais por lâmpadas mais eficientes existentes no mercado. Verificamos, naquela
época, que através de um programa desses poderíamos ganhar em todo o Brasil o
equivalente a mais uma usina de Itaipu.
O Brasil possui um potencial
hidrelétrico de 195.000 MW além do que já está instalado, sendo que mais de 50%
disto está na Amazônia. E o Norte já está interligado ao resto do País por meio
de linhas de transmissão! O problema do consumo de energia restringe-se
basicamente às horas de pico, entre às 17:30 e 20:30 e a duração do pico máximo
é de menos de uma hora, sendo que no restante do dia a capacidade energética
instalada fica praticamente super-dimensionada. Além disso, nesses últimos anos
os índices econômicos e sociais brasileiros se tornaram negativos, o que deve
ter conduzido a uma diminuição do consumo de energia.
A energia solar pode dar uma
enorme contribuição para a redução do consumo-pico de energia elétrica bem como
proteger o ambiente e diminuir a demanda de energia convencional. Poderíamos
ainda citar várias outras soluções, mas apenas mencionaremos as micro-hidrelétricas
como saída complementar. Com a disponibilidade de recursos de toda ordem e de
energia limpa que o Brasil foi abençoado (às vezes parece não ser meritório) e
com as possibilidades de conservação de energia verifica-se que não precisamos
danificar o País nem aumentar a poluição do nosso ar com essas nefastas usinas
termoelétricas, que gerarão piores conseqüências depois porém mais
endividamento do País e empobrecimento do povo agora. Temos muita energia de
sobra e limpa aqui mesmo sem necessidade de gastarmos em geração termoelétrica
que é alienígena aos nossos recursos energéticos e danosa ao País, ao povo e ao
ambiente. Todavia, a solução dos problemas brasileiros não tem passado pelos
caminhos do apoio explícito às necessidades básicas do povo e da defesa da Nação.
SOBRE O AUTOR
Ernani Sartori é editor científico
de publicações internacionais
Email: solar@members.ises.org
in
http://www.aondevamos.eng.br/verdade/artigos/termoeletricas.htm